FIQUE EM CASA COM... NÉLSON "NÉU
Atualizado: 13 de abr. de 2020
"NO FUTURO IREI MUDAR MUITA COISA EM MIM"

Como se está a adaptar à nova realidade? - Dentro do possível vou-me adaptando às circunstâncias. Não é fácil para quem basicamente ia a casa comer e dormir de repente estar confinado a quase todo o dia em casa. Tem sido complicado pela falta de socializar com as pessoas, tenho imensas saudades dos meus jogadores, de dar treino, da adrenalina do jogo, bem como dos convívios e até mesmo de trabalhar... Lá vamos fazendo umas video chamadas para amenizar a distância, mas não é a mesma coisa. Felizmente que as redes sociais acabam nesta fase por permitir alguma proximidade, que ajuda um pouco a manter o contacto, mas falta o andar no terreno!
Que tem aproveitado para fazer? - Basicamente os meus dias têm sido parecidos. Acordo e aproveito de manhã para fazer uma caminhada ou corrida, ou em alternativa fazer um treino em casa para tentar não perder o ritmo do exercício. Neste caso vou fazendo alguns treinos que são disponibilizados na página online do ginásio que frequento. Acabo por sair uns minutos todos os dias da parte da tarde, seja para ir prestar o auxílio à minha avó ou para ir às compras, que tendo o supermercado próximo não ando a açambarcar mantimentos e vou comprando à medida que necessito. Ocasionalmente e quando necessário algo do meu trabalho vou até ao escritório que fica a 50 metros de casa e vai dando para distrair. Fora isso aproveito para jogar um pouco de Championship Manager, pois o bichinho de treinador está cá dentro, e para ver uns filmes e umas séries.
Qual a mensagem que extrai da fase que estamos a passar? - Pessoalmente a principal mensagem é olhar o mundo com outros olhos. Estas três semanas em que vim para casa, e com imenso tempo para pensar o que quer que seja, faz-me perceber o que é que realmente me é importante. As pequenas coisas que me passavam ao lado hoje são vistas como as mais essenciais. O convívio que por vezes não era mais que uma simples paródia, hoje em dia vejo como algo fulcral ao bem estar. Um simples cumprimento, o valor de um pequeno gesto ou de um abraço. Percebo agora o que e quem é realmente importante. Ainda à dias me perguntaram se tinha saudades das pessoas que gosto e respondi que não, muito sinceramente tenho é saudades das pessoas que gostam de mim, que com certeza muitas delas serão também as que gosto, pelo menos a maior parte. Aprendi a dar valor a certas coisas e a pessoas que se calhar passavam ao lado e ao mesmo tempo a não ligar tanto a certas e determinadas coisas e pessoas também. Penso que é um "abre olhos" e que no futuro irei mudar muita coisa em mim mesmo fruto desta aprendizagem que apesar de forçada, é útil e necessária. Lamentando obviamente o seu motivo, o ser fruto de uma pandemia. Globalmente penso que o mundo em geral deve precisamente pensar nas suas prioridades e perceber de uma vez por todas que esta ganância, este materialismo e ânsia de poder é algo que nos está a levar a nós, humanidade, para um abismo. E é esse caminho que devemos evitar.
O mundo nunca mais vai ser igual? - Acredito e espero que não. Há sempre tendência para o ser humano, mais tarde ou mais cedo, voltar ao que era, mas penso que o impacto que o Covid19 teve e tem por todo o mundo será levado em conta, mesmo que mais por uns que por outros. Espero e acredito que muita coisa irá ser melhorada, mesmo que mais tarde ou mais cedo, também muita coisa voltará ao que era. Mas perante uma pandemia destas, nunca antes vivida pelas gerações que habitam hoje o planeta, penso que há muitas ilações que serão tiradas desta catástrofe, e que isso poderá levar a um mundo um pouco melhor.
Gostava que voltasse tudo a ser como era? - Sinceramente sim e não. Sim para as coisas boas da vida, para podermos conviver livremente, até porque o ser humano precisa de socializar, não é um gosto mas sim uma necessidade. Mas nos aspectos gerais não, pois se voltasse a ser tal como era, estaríamos a cometer os mesmos erros e isso seria sinónimo de termos ignorado o sucedido, e seguramente que isso traria mais tarde ou mais cedo muitos desgostos à sociedade.
Quem são os verdadeiros heróis perante o que estamos a viver? - Seguramente os grandes heróis são aqueles que estão na linha da frente, colocando-se a si e por vezes aos seus em risco, para auxiliar todos aqueles que são vítimas deste vírus. Mais heróis são quando possivelmente muitas destas vítimas só o são pelo seu desleixo, ignorância e pela irrelevância que dão ou deram ao caso, como ficou comprovado nas enchentes das praias ou pelas filas na Ponte 25 de Abril no fim de semana, colocando-se a eles e a muitos outros em risco. Acredito que haja muitos casos de pessoas que deram desprezo ao assunto, e proporciona um aumento natural no número de infectados. Assim penso que os heróis serão todos os profissionais de saúde, sejam médicos, enfermeiros ou auxiliares, bombeiros, assistentes sociais que têm de lidar com os nossos idosos. Heróis são também aqueles que não podem parar de trabalhar de forma a garantirem que há bens necessários para todos, conduzem diariamente quilómetros e quilómetros de forma a abastecer as superfícies comerciais. Ao fim e ao cabo todos aqueles que contribuem para que o país não pare totalmente têm uma pontinha de heróis. Mas, claro, o meu especial apreço pelos profissionais de saúde, sem desprimor para qualquer um dos restantes.