ATLETISMO NA LOURINHÃ: HÁ DUAS DÉCADAS A FORMAR CAMPEÕES

O concelho da Lourinhã tem alguma tradição na prática do atletismo, através de pequenos clubes que foram fomentando a modalidade. Nos últimos 20 anos o Núcleo Sportinguista elevou a fasquia, aumentando o número de atletas e os resultados obtidos, correndo de norte a sul do país. Surgiram talentos que rumaram a outros clubes de maior dimensão e a Lourinhã projetou-se também além-fronteiras graças a um desporto que, apesar de todos os êxitos, continua a não ter as melhores condições.
O Núcleo nasceu por iniciativa de um grupo de sportinguistas locais. Meia-dúzia de anos após a sua fundação decidiu também dedicar-se à prática de modalidades desportivas, por volta do ano 2000. Chegou a ter futsal, mas foi o atletismo que viria a ter maior projeção, muito por culpa da iniciativa do seu presidente, Vítor Baptista, o grande motor da modalidade no Núcleo Sportinguista e na Lourinhã.
Os primeiros atletas começaram a treinar no ano 2000 e no seguinte já se juntavam fundos para a aquisição de carrinhas para levar os atletas às provas, já em grande número e com resultados animadores.
O ano passado, em 2020, fruto de vários fatores, entre eles a pandemia de Covid-19, o cansaço dos dirigentes e a doença de Vítor Baptista, o Núcleo deixou de conseguir assegurar o seu funcionamento com a mesma regularidade. O atletismo passou então para o seio do Sporting Clube Lourinhanense. Os treinos já aconteciam no Estádio Municipal e a inclusão do atletismo naquela agremiação, mais conhecida pelo futebol, acabou por ser natural.

Magda Gama, filha de Vitor Baptista, e Sílvia Pinela, ambas agora seccionistas de atletismo no SC Lourinhanense, recordam que os treinos sempre tiveram lugar no estádio ou na ciclovia da vila. De vez em quando vão treinar a pistas de tartan nas redondezas, como a do Paul, em Torres Vedras.
“O Núcleo chegou a uma fase em que, nos últimos dois anos, o meu pai ficou doente, a Alexandra ficou praticamente sozinha, a direção já é antiga e também não estava a querer continuar e achámos que para a modalidade não acabar tínhamos de fazer alguma coisa”, explica Magda Gama. “Então falámos com o Paulo Marta, presidente do Lourinhanense, que aceitou de bom grado integrar o atletismo no clube, e acho que foi a solução mais lógica e é o sítio certo”, acrescentou.
Nos tempos áureos do Núcleo Sportinguista, a equipa de atletismo competiu em vários pontos do país, incluindo Açores e Madeira, e em diversos campeonatos municipais, não só da Lourinhã mas também de outros concelhos. Um dos treinadores dos primeiros tempos foi Carlos Lopes, antigo campeão olímpico, mas só se manteve no cargo dois ou três anos, ficando Alexandra Alves durante muitos anos a continuar a formação de jovens talentos. Alguns deles foram ganhar provas noutros clubes de maior dimensão e pela Seleção de Portugal, como Délio Ferreira (que atualmente também é treinador da equipa de atletismo), Emanuel Rolim, Lília Martins, Susana Francisco ou Miguel Ribeiro.
Atualmente o atletismo do SC Lourinha-nense tem 18 atletas, o mais novo com 10 anos. “Para se praticar atletismo é preciso gostar mesmo da modalidade”, afirmam Magda e Sílvia. Sobretudo na Lourinhã, onde as condições não são as melhores. Ou treinam pelas ruas da vila, nomeadamente na ciclovia que tem melhor piso, ou no próprio estádio. O espaço para treinar atletismo é à volta do campo relvado, uma área que chegou a ter dimensão para se construir uma pista em tartan de 400 metros, mas entretanto foi construído outro campo de futebol em relva sintética no topo do principal e inviabilizou a extensão total de uma pista.

O piso em terra transforma-se em lama quando chove no inverno e não permite que os treinos de velocidade decorram nas melhores condições, para além de poder provocar lesões graves nos jovens praticantes. O resultado é que muitos jovens acabam por escolher outros desportos. Por outro lado, impede que aqueles atletas com pouco jeito para as corridas possam experimentar outras disciplinas do atletismo.
Na opinião de Magda e Sílvia, o ideal era ter na Lourinhã uma pista completa. Ou então colocar tartan na zona possível do Estádio Municipal, nem que fossem só quatro corredores, e zonas para disciplinas técnicas como lançamento do peso ou o salto em comprimento. Têm noção, contudo, que isso representa um grande investimento. Mas defendem que no mínimo o piso de terra batida tivesse uma manutenção mais regular, de modo a ficar mais liso, sem lama e sem poças de água. “Os nossos atletas não têm as mesmas condições de treino dos outros e depois vão a provas em pistas de tartan e têm mais dificuldade”, lamentam as duas dirigentes, que mesmo assim sublinham os resultados “excelentes” que têm alcançado.

“Não podemos fazer muito mais, apenas pedir. Mas as pessoas têm que tomar consciência que o atletismo para continuar na Lourinhã tem que ter condições, nem que sejam básicas. Caso contrário, obviamente os atletas vão para outros sítios”, destacam as nossas entrevistadas, que elogiam as condições fornecidas pelo Lourinhanense, mas referem a carência de equipamento de atletismo mais técnico.
“O facto de o Délio estar a fazer treino específico para a disciplina que os atletas mais gostam também trouxe alguma motivação aos miúdos. A minha filha não gostava de correr os 800m, mas ele descobriu que ela tem mais aptidão para os 200m e passou a ter melhores resultados”, destaca Sílvia Pinela.
Magda Gama dá outro exemplo: “no final da época tínhamos uma miúda mais gordinha que não tinha muita apetência para correr, mas foi experimentar o lançamento do peso e gostou, porque tem melhores condições para essa disciplina”.
A proximidade da escola também podia ser uma mais-valia, já que podia aproveitar as condições da pista de atletismo para o desporto escolar e assim até descobrir mais talentos para a modalidade. “O atletismo continua a existir também pelo mérito e persistência dos atletas”, concluem as nossas interlocutoras.
Texto: Joaquim Ribeiro
Fotos: Joaquim Ribeiro e Arquivo